domingo, fevereiro 06, 2005
Comparo muitas vezes as tatuagens aos afectos… Por mais que se queiram apagar, por mais que percam a cor, deixam sempre uma marca, uma cicatriz do que um dia existiu naquele lugar… E há que saber aprender a viver com essas marcas… Só que quando as cicatrizes representam o que outrora foram feridas grandes e profundas torna-se difícil conseguir reinventar afectos e partilhas… Há afectos que acreditamos terem perdido a cor, mas que ainda são bem visíveis… Negamos o seu significado, mas, ao mesmo tempo, não damos espaço para que novos afectos se esbocem e comecem a ganhar cor…
Os afectos não se contabilizam, não se medem, não concorrem entre si, não se comparam uns com os outros… Cada um tem o seu tempo e o seu espaço, a sua essência, as suas cores…Os afectos têm a magia de nos elevar ao céu com um sorriso e o poder de nos fazer descer ao inferno com um olhar…
Ontem custei a adormecer… Fiquei a pensar na nossa conversa… Nalgumas coisas que disseste… Noutras que tinhas dito antes… Estás triste… Mas custa-me acreditar que os motivos sejam só aqueles… Parece-me que os teus afectos ainda têm vestígios das cores que os pintavam… No entanto dizes que não… E enquanto assim for não vais conseguir redesenhar qualquer sentimento, reinventar qualquer cor…
Nem todas as pessoas te querem magoar… Não dizes, mas sinto que tens medo… E nisso voltamos a ser parecidos… Nisso e noutras coisas… Mas as diferenças afloram quando se trata de seguir em frente… Nada é eterno e deixei de acreditar no “para sempre”…Mas acredito no “um dia de cada vez”… E é por isso que solto as amarras e vou de peito aberto… Receosa, é certo, mas, ainda assim, abro a alma ao que a vida me pode oferecer… Sei que corro mais riscos… Já me magoei muito assim… Mas ainda não fui capaz de desenvolver a incredulidade que reconheço em ti… E essa desconfiança torna-te mais forte… Também mais sério, mas seguramente mais forte…
Sinto que tens muito para dar… E um dia vais deixar cair a armadura para ser feliz… Até lá só te posso dizer que estou aqui… E que gostava muito de te ver feliz…
Beijo grande,
Ana
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