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segunda-feira, abril 18, 2005

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Sinto-me bem neste lugar.

Fecho os olhos e recuo no tempo. Tenho outra vez oito anos e vejo o Avô sentado num banco do jardim. Veio comigo, como sempre. Eu queria vir brincar para o parque e o Avô trouxe-me. Viemos devagarinho, porque o Avô não pode andar rápido. Gosto tanto deste lugar. É tudo tão grande. Posso correr e pular à vontade. O Avô diz-me sempre para não ir para muito longe, mas eu não ligo. E corro na esperança de levantar os pés do chão e voar. Quando fico cansada olho para trás. O Avô continua sentado no banco do jardim à minha espera. Quando me aproximo olha-me com cara de quem me vai ralhar, mas não o faz. O Avô ralha pouco comigo, isso é trabalho para a Avó. E quando o faz é porque fiz asneira de verdade. Sei que sou muito irrequieta e reguila, e que estou sempre a fazer o que não devo. E a Avó está sempre a ralhar comigo. Mas com o Avô é diferente. Consigo olhar para ele e perceber que não me portei bem, sem que ele tenha de dizer uma única palavra. Olho para o Avô com ar arrependido por não ter obedecido e ter ido para longe, e digo baixinho “Desculpe!”. O Avô olha para mim e diz “Vamos embora que a tua Avó já deve estar à nossa espera.”. E assim regressamos a casa. Não dou a mão ao Avô. Vou sempre um pouco mais à frente, ainda aos pulinhos. Em tom de brincadeira o Avô diz que tenho bichos carpinteiros e eu acho engraçado.

Abro os olhos e regresso ao presente. Este jardim já não me parece tão grande como antigamente. Antes, todos estes recantos me pareciam imensos e fantásticos. Cada um escondia os seus mistérios e era uma nova oportunidade de aventura. Não foram raras as vezes em que regressei a casa com feridas nos joelhos e nas mãos. Hoje são apenas recantos num jardim calmo e silencioso. Quando eu aqui vinha brincar, este lugar estava sempre cheio de crianças. Agora é só um jardim onde se vêem algumas pessoas mais velhas sentadas nos bancos com o olhar perdido no tempo e no espaço.
Este lugar tem o poder de me fazer recuar no tempo e relembrar mais um pouco, e mais uma vez entre tantas, o Avô. Ainda hoje tenho vontade de chamar por ele, “Avô! Avô!”, como tantas vezes fiz. Mas percebo que não vale a pena porque não o vou encontrar a olhar para mim ali, sentado no banco do jardim. E é então que fecho os olhos e baixinho, num murmúrio quase silencioso, digo “Avô, tenho saudades suas!”.

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