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sexta-feira, novembro 18, 2005

As palavras presas na garganta já não me incomodam... 


As palavras presas na garganta já não me incomodam. Aprendi a viver com elas, porque nem tudo o que se pensa e se sente pode ser dito. Guardo-as, então, numa caixinha pequenina onde se vão acumulando todas aquelas que um dia deixei por dizer. Guardo-as num recanto da minha alma ao qual Pessoa chamou um dia “comboio de corda”, porque só nesse lugar tudo faz sentido. Só nesse lugar todos os sentimentos são verdadeiramente generosos e puros. E é nesse recanto da alma que guardo aquilo que de mais meu tenho, porque há coisas que nem a nós mesmos podemos dizer.
Nos últimos tempos tenho reparado que a palavra “verbalizar” anda nas bocas do mundo. Sempre que a ouço esboço um sorriso discreto, quase imperceptível. Recorda-me as conversas com uma amiga querida. Recorda-me as palavras que verbalizamos e aquelas que só fomos capazes de proferir no silêncio de um olhar. Porque há olhares que valem mesmo mais do que mil palavras.
As palavras presas na garganta já não me incomodam. São apenas reminiscências daquilo que ficou por dizer quando me faltou a coragem para deixar sair tudo aquilo que tinha cá dentro. E guardo essas memórias, religiosamente, naquela caixinha pequenina para que nunca me esqueça daquilo que já senti. Porque foram os sentimentos que fizeram parte de mim um dia que me tornaram na pessoa que sou hoje. E a pessoa que sou hoje apenas sabe sentir como sente por causa daquilo que já sentiu um dia.
As palavras presas na garganta já não me incomodam. São apenas palavras. Valem o que valem para os outros. Para mim valem demais.
As palavras presas na garganta já não me incomodam. São pedaços da minha existência. São, apenas, pedaços de mim.
As palavras presas na garganta já não me incomodam...

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