<$BlogRSDUrl$>

quarta-feira, novembro 09, 2005

"Já não sei sonhar" 

"Perguntas-me quem sou, sem perceberes que o que procuras é saber quem és. Dizes-me todas aquelas coisas que uma mulher gosta de ouvir, mas não é pelo prazer de as dizer, é pela necessidade que sentes de sentir o que dizes, mesmo não sentindo. Somos iguais, embora me julgues mais emocional do que tu. Talvez seja essa a razão que te tenha levado a escolher-me a mim, e não outra, para esta nova fase da tua vida. Acreditas que posso ensinar-te a sentir outra vez. Mas não percebes que eu mesma já não sei como se faz.
Quando me conheceste eu era uma sonhadora. Uma menina que acreditava no “foram felizes para sempre”. Mas o tempo passou e a vida encarregou-se de me ensinar que os contos de fada não passam disso mesmo, e que ao finais felizes acontecem só na ilusão das pessoas. Não percebeste o efeito que esses ensinamentos da vida tiveram em mim, e queres que partilhe contigo as minhas ilusões. Queres reaprender a sonhar comigo. Mas eu já não sei sonhar. Já não sei como se reinventam os olhares nem os gestos. Já não sei como se demonstram os sentimentos mais escondidos. Já não sei como se sonha de olhos abertos, nem o que é sentir borboletas no estômago quando se aproxima aquele a quem se dirigem os afectos.
Antes, antes de a vida me desfazer os sonhos de menina, acreditava na velha história de que a alma estava dividida em duas e que um dia iria encontrar a outra metade da minha. Mas isso era antes. Antes de perceber que os arco-íris não têm um tesouro no final. Antes de descobrir que a magia dos afectos é pura ilusão, e que os meus fazem parte dela.
Lembro-me bem da última vez que me apaixonei. Acreditei que aquela paixão iria ter o tão desejado final feliz. Mas não teve. Correu mal, muito mal. E depois dela nunca mais conseguir apaixonar-me por ninguém. Tentei, mas não fui capaz. Aquele fracasso havia despedaçado a minha crença no amor de uma vez por todas. Mas na altura faltou-me a coragem de encarar o meu fracasso e olhá-lo nos olhos. Refugiei-me no amor que os outros sentiam por mim e suguei-o até não poder mais, na esperança de voltar a sentir algo mais profundo dentro de mim, tal como tentas fazer, em vão, comigo.
Olhas para mim e dizes que vamos ser felizes. Como eu gostava de acreditar! Dizes que sabes o que sinto e que vais ser capaz de me fazer acreditar de novo. Mas, no fundo, sabes que o risco de isso não acontecer é maior do que a possibilidade de essa ser a nossa realidade."

(...)

Comments: Enviar um comentário

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

Pensamentos de outros...


moon phase
 
Músicas especiais...