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sábado, novembro 26, 2005


Ás vezes demora-se algum tempo a perceber determinadas coisas. E o tempo que se perde nesses entretantos pode ser crucial. Quando a ficha, finalmente, cai e percebemos o que não tínhamos conseguido ver, por vezes, dói demais.
Sempre disse que não sabia viver as coisas pela metade, e que aquilo que mais me assustava era cair nesse abismo de incerteza e indecisão. E foi sempre assim que pautei a minha vida, traçando a minha trilha de acordo com a certeza de que viver era ser inteiramente verdadeira comigo mesma, doesse aquilo que doesse. Percebi, com o passar dos anos, que a verdade pode ser muito cruel, mas sempre preferi enfrentá-la a viver na mentira e na ilusão. Quando a vida colocou no meu caminho uma dura realidade ainda pensei em fugir e esconder-me na ilusão que me era oferecida noutro lugar, mas não o fiz. Não fugi e enfrentei a verdade, por mais dura que fosse. Depois, então, fui curar as feridas para outro lugar. Custaram a sarar. Mas como aquilo que não nos mata torna-nos, realmente, mais fortes ergui a cabeça e enfrentei de peito aberto o que a vida tinha guardado para mim. E nunca me arrependi de tê-lo feito. Só que hoje falta-me a coragem para fechar as portas que se abriram quando eu passei. Entrei aqui sem pensar duas vezes, nem olhar para trás. Mergulhei de cabeça sem ter medo da escuridão que se prolongava à minha frente. E agora, aqui no meio desta névoa sombria onde me encontro, tento encontrar uma solução para o nada que me invade e abre caminho ao vazio.
Lembro-me que quando era pequenina tinha medo das casas muito grandes, porque tinham corredores que eram, aos meus olhos, gigantescos e me amedrontavam por não saber o que se escondia por de trás daquelas portas fechadas. Quando penso neste tipo de casas não consigo evitar recordar a casa da minha Tia-avó. Aquela casa sempre me deu arrepios, com os seus corredores imponentes e o papel de parede que os cobria, daquele tipo que forrava as paredes das casas antigas. Talvez tenha sido por isso que nos últimos anos que ela lá viveu eu nunca tenha passado da sala de estar. Recordo aquela casa à qual está ligado o meu medo de criança dos corredores grandes e escuros, e penso em tudo isto que me amedronta e me deixa sem coragem. Sinto que tenho novamente cinco anos e que estou em casa da tia, ouço alguém chamar-me mas tenho medo de atravessar o corredor. Há portas abertas mas lá dentro as luzes estão apagadas. Está escuro e eu tenho medo. Sei que, mais cedo ou mais tarde, terei de caminhar, ainda que cuidadosamente, para atravessar o corredor, fechando as portas à minha passagem. Mas por enquanto não sou capaz. Talvez a travessia deste corredor sirva para me ensinar a pensar duas vezes antes de enfrentar a escuridão. Porque há coisas que nela ficarão irremediavelmente perdidas depois de terem caído no chão, porque a luz necessária para as reencontrar não está, simplesmente, ao alcance das minhas mãos.

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