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terça-feira, janeiro 03, 2006

Para a Inês... 

“Há coisas que não dizemos porque sabemos que não há necessidade de o fazer!”

Hoje disseste-me isso e, mais uma vez, senti a força da nossa amizade. Sentei-me aqui, depois de mais uma longa conversa daquelas de que tanto gostamos, e senti-me perdida. Perdida no que sou e encontrada no meio daquilo de que fujo. Relembrei, mais uma vez, aquela noite e, mais uma vez, tremi. Recordei as emoções que não me permitiram dormir a noite passada. O medo. O temor. A sensação de que nem na minha cama, nem no meu quarto, nem na minha casa, estava segura. Sentia que alguém invadia o meu espaço, levando consigo a minha paz. “Não podes ficar assim!”, disseste-me hoje, vezes sem conta. Não podemos ficar assim! Nem eu, nem tu, nem as outras. Já passou e é algo que não voltará a repetir-se. Mas o medo instalou-se em mim e ainda não descobri como o mandar embora.
Sei que não estou sozinha. Estamos juntas nisto, e é nessa certeza que encontro a coragem para tentar fechar os olhos esta noite. Não nos vamos deixar cair umas às outras e isso é o mais importante.
Queria tentar perceber o porquê desta inquietude. Foi um momento que ficou lá atrás. Talvez o facto de saber que daqui a uns tempos terei de relembrar, o mais pormenorizadamente possível, aquela madrugada me faça perceber que esquecer não será tão fácil e tão simples assim. Como eu queria que fosse.
Quem sabe o que aconteceu tende a brincar com a situação. E isso deixa-me profundamente triste, porque ninguém percebe, ou tenta perceber, a maneira como nos sentimos. Todos têm uma opinião e todos dizem que perante tal acontecimento agiriam desta ou daquela maneira. Mas gostava de os ver lá, no nosso lugar, nas nossas circunstâncias, na nossa condição de mulheres.
Pedes-me força! Mas eu tive força! Naquele momento percebi que não podia fraquejar. Mas ontem, durante a noite, as minhas forças esvaíram-se do meu corpo e eu tive vontade de libertar o medo, a raiva e a ansiedade, pelos olhos, deixando brotar as lágrimas que mos queimavam. Não fui capaz. Alguém me disse, curiosamente ontem, e a propósito de outro assunto, que eu não podia permitir que certas coisas me deixassem mais fria. E isso fez-me relembrar uma conversa que havia tido há, mais ou menos um ano atrás, em que alguém, que infelizmente só passou na minha vida, me dizia que com o tempo eu iria apurar a minha frieza mas que tinha a esperança que não fosse demais. Essa pessoa hoje não vê como as suas palavras foram certas. Ontem à noite percebi que não sou capaz de chorar. Já tinha tido indícios dessa incapacidade há umas semanas, mas ontem percebi-a sem qualquer dificuldade. Não te disse isto. Disse-te apenas que tinha tido muita vontade de o fazer, tanto durante a noite como hoje de manhã, durante uma aula. E é verdade. A vontade está cá, mas as lágrimas apenas me queimam os olhos, já não escorrem pelo meu rosto.
Tudo o que nos acontece na vida tem um significado, mesmo que não sejamos capazes de o perceber no momento imediato. Acredito nisso! Mas uma coisa é certa: aquela noite serviu para nos unir ainda mais naquilo a que tu chamas “uma amizade para a vida”.
Faço minhas as tuas palavras: “Há coisas que não dizemos porque sabemos que não há necessidade de o fazer!”
Beijo grande,
Ana

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